A Mulher de Preto - O Horror Gótico está de volta ao cinema

sábado, 9 de junho de 2012.

Sinceramente, se eu fosse o tal Daniel Radcliff ia ficar chateado com o cartaz de "A Mulher de Preto". Dizem que o ator escolheu esse filme para fugir do personagem que lançou seu nome para a fama e estrelato, mas é claro, algum gaiato tinha que colocar em letras garrafais a frase: "Um filme com o ator de Harry Potter" em destaque.

Em letras bem menores, no entanto, está a informação que realmente importa para os fãs do horror: "A Mulher de Preto" é um filme produzido pela Hammer Films.

Para quem não sabe do que estou falando, a Hammer Films talvez seja um dos mais icônicos estúdios britânicos. Entre os anos 50 e 70 ele se notabilizou por produzir alguns dos melhores filmes de horror do período. A especialidade da Hammer eram os filmes de monstros clássicos como Drácula (vivido por Christopher Lee) e Frankenstein (onde o cientista que criava o monstro era quase sempre Peter Cushing). Embora o carro chefe fossem Drácula e Frankenstein eles fizeram muitos outros clássicos de terror gótico.

O ápice da Hammer foi a década de 60, época em que seus filmes atraíam multidões aos cinemas. Nos anos 70, o estúdio ainda conseguiu emplacar alguns filmes razoáveis, mas a decadência já começava a se instalar e produções meia-boca decretaram sua ruína financeira. No início dos anos 80, a Hammer já tinha sumido do mapa.

Em 2007, a Hammer ressurgiu após quase três décadas. O estúdio foi comprado e a marca trazida de volta do limbo. Depois de algumas produções com altos e baixos (como a refilmagem do filme sueco de vampiros "Deixe ela entrar"), o legendário estúdio decidiu retornar ao gênero em que fez história. "A Mulher de Preto" é o primeiro filme da Hammer fiel a sua biografia de Horror Gótico.

Com tanto em jogo, o que esperar?

Duas palavras definem bem esse filme: atmosfera e refinamento.

A Mulher de Preto é um filme de horror como se fazia antigamente, boa parte do filme parece ser uma homenagem aos antigos filmes de casa assombrada e fantasmas. Ele nos poupa de sustos baratos, efeitos digitais mirabolantes e banhos de sangue. O horror que ele conjura está nas entrelinhas, nos longos trechos em silêncio e nas expressões agoniadas dos personagens. Nada do que acontece na tela é gratuito, tudo é bem ponderado e executado. Trata-se de um filme de fantasmas e assombrações que remete aos contos de Edgar Allan Poe e Sheridan LeFanu, decanos do horror vitoriano.

Radcliff faz o papel de Arthur Kipps, um advogado viúvo que no início do século XX é contratado para viajar até o remoto vilarejo de Crythin Gifford na Inglaterra e descobrir se uma mulher deixou algum testamento ou herdeiro para seus bens. É a última chance de Kipps manter seu emprego, conforme avisa seu patrão e ele precisa superar a morte da mulher para o bem de seu filho. A viagem até o povoado é bastante similar a do personagem Jonathan Harker no Drácula de Bran Stoker. Ambientes bucólicos no interior da Inglaterra sempre parecem apavorantes e esse não é diferente.

Alguma coisa não parece certa na cidadezinha e seus habitantes só querer que o forasteiro vá embora e os deixe em paz. Logo ele descobre que a relutância dos moradores tem a ver com as mortes de várias crianças e com um espectro macabro culpado pela tragédia que aflige as famílias: é a tal Mulher de Preto.

A medida que vai bisbilhotando à respeito do mistério, outras perguntas vão surgindo. Quem era a tal mulher misteriosa? Qual a sua relação com o povo da cidade? E o que aconteceu em seu passado que causou tanto sofrimento?

As respostas se encontram na velha mansão que fica no meio de um pântano pra lá de traiçoeiro. O único acesso até o casarão é através de uma estrada engolida quando a maré está alta -- um recurso muito inteligente para salientar o isolamento da propriedade, existindo quase em outra realidade. Quando as estradas fecham, ninguém entra e principalmente ninguém sai.


Enquanto explora a assustadora mansão, uma figura sombria parece observar o advogado. É o tipo de situação bem comum em filmes de terror, mas isso não significa que o roteiro seja previsível. A bem da verdade, o filme se propõe a prestar uma homenagem a elementos clássicos do gênero: o isolamento, a sensação de estar sendo observado, os sussurros e batidas, a cadeira de balanço se movendo sozinha, as sepulturas recentes, os brinquedos sinistros, o nevoeiro impenetrável... nada disso é novo, mas a forma que essas coisas são usadas reforçam os elementos narrativos e deixam uma sensação de deja vu.

Bons filmes de horror na minha opinião precisam construir uma trama que mantenha o espectador em suspense à medida que os segredos vão sendo mostrados. A Mulher de Preto consegue criar interesse colocando o espectador na perspectiva do personagem principal. Enquanto Kipps investiga a casa assombrada, a câmera o segue para todo o lado e nós vemos exatamente o que ele vê. A inquietante impressão que alguma coisa está observando é transferida para nós. Trata-se de um filme que se esforça em criar uma atmosfera propícia ao suspense e a partir dele envolve o público.
O elenco é bem equilibrado e correto. Com uma atuação surpreendentemente madura, Radcliff consegue convencer como um sujeito amargurado e dividido entre o dever profissional e a obrigação familiar. Embora seja difícil desassociá-lo imediatamente de Harry Potter e aceitá-lo como o pai de um garotinho, ele merece elogios pela tentativa de fazer algo diferente. O restante do elenco dá um excelente apoio, sobretudo Ciáran Hinds um daqueles coadjuvantes de luxo que quase sempre roubam a cena. No papel de um sujeito afetado pela tragédia e cuja família ainda sofre com o choque da morte de um ente querido, ele concede dignidade ao seu personagem, o único na cidade a ajudar o forasteiro a ir até o fim em busca da verdade.

O final amarra perfeitamente uma narrativa angustiante sobre uma vingança cujo fogo não se apaga.

Com uma bela reconstituição de época, figurino impecável e uma música evocativa, a Mulher de Negro é um filme capaz de surpreender. Sem dúvida ele vai deixar um sorriso na face daqueles que gostam de histórias de fantasmas como se fazia nos velhos tempos.


Nos tempos da Hammer.

1 Comentário:

Anônimo disse...

:)

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