ARTIGO- DROGAS: CARETA, ALTERNATIVO, PESSOAL OU SOCIAL?

quarta-feira, 12 de maio de 2010.

“Hoje, ninguém se torna mais ou menos “alternativo” por usar ou não usar drogas ilícitas, da mesma forma que usar drogas lícitas como álcool ou cigarro não tem significado cultural nem dominante nem alternativo.”

1 - “Meu Nome Não é Johnny”

Não somos ingênuos e sabemos que desde que o mundo existe o ser humano usa as mais diversas substâncias para alterar a consciência, seja culturalmente, religiosamente ou individualmente. Em cada época da história tais substâncias tiveram papéis diferentes: as vezes permitidas, outras proibidas, outras libertárias, outras conservadoras. Em nossa época, esse papel é eminentemente (do hedonismo) pessoal e privado, sem significado social “alternativo” em si.

2- Da contestação até a caretice:

Nos anos 60 e 70 do século passado o uso de algumas drogas esteve associada a movimentos de mudança e vanguarda social.

Posteriormente, as mudanças sociais realizadas foram difundidas pela sociedade e absorvidas como novo padrão de comportamento social normal e consumo. Principalmente a partir dos anos 80 e 90

o uso de drogas se tornou algo de conteúdo neutro em várias camadas sociais, se desvinculando de movimentos sociais de mudança.

Simultaneamente cresceram as multinacionais do comércio internacional de drogas, e o tráfico entrou em processo de "profissionalização" e organização de poder paralelos ao estado, (em alguns países chegando a controlar territórios das cidades ou setores do governo).

Já há duas décadas as drogas são uma realidade tanto em diretorias de grandes empresas como na festa funk ou pagode da esquina, tanto nas classes altas quanto nas médias e baixas, tanto na balada comercial quanto em eventos alternativos: não define alternatividade ou “contra-culturas”. Como definimos em outro texto, passa a ser um elemento genérico não valorativo.

3 – Superando o Preconceito:

Até certa altura do século passado as subculturas alternativas eram associadas a criminalidade e contravenção por quem desejava desmerecê-las. Esses críticos e analistas deixavam de lado os aspectos culturais destas.

Posteriormente, o avanço dos estudos sociais desconstruíram este pré-conceito, alguns re-situando as subculturas urbanas nos estudos de identidades culturais, enquanto outros as re-situaram ma análise de consumo. Estudos posteriores fundem as duas questões como complementares.

Paralelamente, o consumo de drogas perdeu sua ligação a comportamentos contestatórios, proliferando por classes ricas, empresariais ou pobres e conservadoras da sociedade.

4- Drogas: escolha pessoal independente do alternativo

Qual seria então, hoje, o significado do antigo discurso “drogas são algo alternativo” em-si? Passa a ser algo totalmente diferente da função social do “sexo, drogas e rock´n´roll” do passado. Temos a embalagem do produto “drogas” em uma embalagem alternativa, sem uma valorização de qualquer coisa “difeerente”de fato.

Quando isso acontece, o estilo alternativo que é “parasitado” por estas estratégias se tornam irrelevantes culturalmente.

Também o tipo de consumidores atraídos por esse tipo de discurso, em geral não tem muito interesse em algo culturalmente alternativo. Vai consumir um simulacro de cultura alternativa da mesma forma que alguém sem ligação cultural a estas cenas que compra uma peruca ou camiseta Gótica ou Punk pela simples aparência destas.

Por outro lado, existem nas subculturas alternativas algumas pessoas que fizeram a escolha pessoal e privada de usar alguma substância que produz dependência química e alteração de consciência. Esta opção madura deve ser respeitada tanto quanto aquela opção da pessoa que em uma cena alternativa opta por não ser usuário de nenhuma droga lícita ou ilícita.

Usar ou não usar drogas: nenhuma das duas opções, hoje, faz com que alguém seja mais ou menos alternativo do que o outro. Hoje, ninguém se torna mais ou menos “alternativo” por usar ou não usar drogas ilícitas, da mesma forma que usar drogas lícitas como álcool ou cigarro não tem- em si- significado cultural nem dominante, nem alternativo.

Continuam a existir as consequências e prazeres pessoais que sempre existiram no consumo destas substâncias. Essa escolha cabe a cada um em sua esfera pessoal e privada, de forma consciente.

Comentários:

Postar um comentário

 
:.::GOTHIC SOROCABA::.: © Copyright 2010 | Template By Mundo Blogger |