ENTREVISTA- ALL ABOUT EVE/"Esplêndida Retrospectiva". Entrevista com Julianne Regan.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010.


Matéria: Luiz Soncini

O nome da banda relaciona-se com um dos filmes mais nomeados na História do Oscar (vencedor de 6 prémios, a incluir melhor filme), nomeadamente “All About Eve”, realizado por Joseph L. Mankiewicz e estrelado por Bette Davis, Anne Baxter e Marilyn Monroe? O que foi considerado quando da escolha do nome?

Sim, nós tiramos o nome deste filme. Naquele período, devido a pressa, nem chegamos a pensar muito na escolha, visto que o single já estava gravado e o Departamento de Arte só estava a espera do nome para terminar o encarte. Nós gostamos da sonoridade do nome… Embora o filme seja maravilhoso, com brilhantes e picantes diálogos entre as actrizes.


Há, nos primórdios da banda, envolvimento de alguns nomes célebres da cena musical, a destacar Mick Mercer, Gene Loves Jezebel, Xmal Deutschland… Por favor, explique nos sobre a formação do All About Eve?

Quando eu tinha apenas 19 anos, mudei-me para Londres com o sonho de me transformar em jornalista musical e apaixonei-me ao ler uma revista alternativa chamada Zig Zag, a qual era editada por Mick Mercer. Encontrei-me com ele e perguntei se poderia escrever para a revista… a resposta foi sim… e a primeira banda que entrevistei foi Gene Loves Jezebel… Apesar de não saber tocar baixo, eles me convidaram a ser baixista… então fiz um curso intensivo de um final de semana com Jah Wobble do PIL. Através do Gene Loves Jezebel conheci pessoas da 4AD Records e ao deixar a banda, comecei com a minha. A 4AD me colocou em contacto com Manuela Zwingmann, baterista que havia saído dos Xmal Deutschland… Imediatamente surgiu uma grande amizade e começamos a escrever as canções.

Qual é o sentimento da banda em relação ao início do movimento “Post Punk / Gothic”? Consideram-se precursores?

Eu era fã e ouvia as bandas desta epóca anos antes da formação do All About Eve. Era uma estudante que sonhava diariamente fazer parte daquela cena e assistia grandes concertos de Dead Can Dance, Bauhaus, The Cure, Siouxsie and The Banshees… logo nós recebemos muito destas influências… mas realmente tivemos parte nesse movimento, principalmente quando começamos a nos apresentar em Londres e entramos na mesma conta de bandas como The Mission.


Em menos de 5 anos, o All About Eve já participava de grandes concertos e abria espectáculos para ícones; a canção “Martha´s Harbour” atingia excelentes posições; Julianne Regan era comparada a Kate Bush e votada como melhor cantora pelos leitores da Revista Melody Maker. Como se sentiram com o sucesso meteórico? Imaginavam ou sonhavam com isso no início da banda?

O sucesso apareceu realmente muito rápido! Não pensávamos em receber tantos elogios. Entretanto o Mundo da Música e principalmente a inconstante Imprensa Musical Britânica podem transformar uma banda em grande sucesso e logo a seguir despedaçá-la tão rapidamente quanto; basta a moda ser outra… Penso que não fomos “cool” suficientes, mas foi óptimo enquanto durou… Ter grandes êxitos lançados, ser comparado com grandes artistas e tocar em salas como Royal Albert Hall... Parece-me agora um estranho sonho… e a séculos atrás.

Vocês tiveram o prazer de trabalhar com alguns monstros do Rock, como David Gilmor (Pink Floyd), Hayne Hussey (The Mission), The Cure, entre outros. Comente como é trabalhar com seus “ídolos”?

Wayne Hussey era mais amigo do que ídolo e sempre foi estimulante trabalhar com ele e os The Mission. Fiquei lisonjeada ao ser convidada a fazer backing vocal em alguns temas da banda; além disso abrimos vários concertos dos The Mission pela Europa… Eram sempre festas infinitas. Com os The Cure era totalmente diferente, apesar de serem bastante amigáveis, nós éramos tímidos e não tínhamos muita confiança com eles… Abrimos seus concertos algumas vezes e Robert Smith sempre fez lisonjeiras declarações a nosso respeito. David Gilmour… bem, eu quase morri de êxtase quando ele tocou em nosso álbum! Eu sou fá de Pink Floyd a quase 30 anos. A sua participação nas canções “Are You Lonely” e “Wishing the Hours Away” foi maravilhosa… Em minha opinião, isso foi o ponto mais alto da biografia do All About Eve… Um sonho que se tornou realidade.


Em 1 ou 2 palavras, o que diriam de: Joy Division, Bauhaus, The Beatles, Sex Pistols, Sisters of Mercy, The Mission, The Cure e Cocteau Twins?

Joy Division – Sombrios e Idealizadores
Bauhaus – Vividamente monocromático
The Beatles – George e Paul
Sex Pistols – Inteligentes e Calculistas
Sisters of Mercy – Chato e Linear
The Mission – Vibrante e Tempestuoso
The Cure – Génios maravilhosos
Cocteau Twins – Brilho cintilante

Entre 1993 a 1999 a banda separou-se. Fala nos sobre este período e a necessidade do afastamento?

Nós realmente precisávamos nos separar porque o entusiasmo havia acabado… A fonte estava seca.

Eu estava cansada e doente com a Industria da Música e precisava me distanciar disso. Comecei a escrever minhas canções e, em parceria com Tim McTighe, lançamos um álbum por uma pequena editora com o nome de “Julianne Regan and Mice”. Orgulho-me muito deste álbum… Ele saiu na epóca do movimento Brit Pop e é considerado como tal; fiz muitas coisas que não conseguiria em All About Eve.

A banda sempre foi assim… Perdemos integrantes, brigamos, voltamos atrás e nos unimos novamente… Somos como uma grande árvore que no Outono tenta se livrar das folhas para renascer na Primavera…


Como foi o renascimento do All About Eve? Como surgiu a ideia para a digressão acústica?

Retornamos após um convite de Wayne Hussey para que déssemos suporte na digressão do The Mission e isso nos pareceu uma coisa divertida a fazer. Neste momento eu trabalhava num escritório a dactilografar e responder telefonemas… logo seria uma agradável mudança. Desenvolvemos estes concertos acústicos, o que para nós era excitante, divertido e temerosamente intimista.


O álbum Iceland possui aspectos diferentes; a utilização de softwares na composição, os covers de George Michael a Queen e a disponibilização na Internet. Como foi esta experiência?

Andy e eu queríamos fazer um álbum com tema de Inverno. Escolhemos nossas canções de Natal favoritas e as refizemos de forma drástica e diferente das originais. Alguns odiaram este CD por ser tão sintético; entretanto estamos no século XXI e não vejo problema em usar as máquinas na música… quantas coisas são imaginadas reais, porém são feitas em computadores. As bandas, com pouco dinheiro (como é o nosso caso), podem fazer música em casa e ter um trabalho de qualidade sem gastar cerca de 200 libras para estar com um produtor por cerca de 1 hora… Além disso é óptimo para a criatividade e experimentação.


A sonoridade do All About Eve esteve em diversos estilos como Post Punk, Gothic, Indie, Psychodelic… Como foi a experiência de participar do Whitby Goth Festival em 2003 após tantos anos na estrada?

Foi uma noite brilhante!!! Estivemos preocupados em não ser “góticos” suficientes para o evento, mas a cena gótica não é tão superficial como aparenta externamente ser. A audiência foi tão amável, feliz, honesta e aberta… Pareceu-nos tão natural estar ali… Foi como um retorno ao início. Esperamos voltar ao Whitby Gothic Festival.

Há centenas de concertos listados na “Gigografia” de All About Eve. Quais foram os melhores? Os piores? Por que países como Espanha, Portugal e América Latina nunca receberam um concerto?

Os melhores... Whitby Goth Festival, abrir os concertos dos The Cure na Irlanda e no Crystal Palace, nossas 3 noites esgotadas no Royal Albert Hall e uma apresentação à luz de velas numa linda e antiga Igreja em Londres, a Union Chapel… O pior foi quando Marty, o guitarrista, não estava a falar com o resto da banda...

Infelizmente, não houve concertos nestes países simplesmente por não haver procura… é um pouco vergonhoso, mas All About Eve nunca foi suficientemente popular para isso. Desejei muito ir a Portugal e visitar o Estádio da Luz após a Europeu de 1996, quando me tornei fã de Futebol… talvez apaixonada por João Vieira Pinto (Victor Baia e Paulo Sousa também). Eu era uma garota sonhadora! Isso parece-me uma oportunidade perdida… e agora, tenho medo de voar… porém poderia pegar um barco em Santander (risos)?


O recém lançado álbum “Keepsakes – A Collection” foi idealizado para comemorar e/ou sintetizar 20 anos de brilhante carreira musical?

É uma celebração dos nossos 21 anos de carreira! Achamos óptima esta decisão da Editora e ficamos muito excitados em estar envolvidos com a escolha das canções, da organização, da arte… Imaginei que seria uma experiência depressiva a fazer… escutar e nos vermos jovens com uma pele nova e lisa (risos), porém foi muitíssimo agradável e relembrei tantas coisas boas que se tende a esquecer…

Qual foi o critério para a escolha das canções, das raridades e das remisturas para a Compilação?

A ideia foi fazer uma compilação interessante tanto aos mais exigentes fãs, quanto às pessoas que somente recordam de alguma canção que ouviram na rádio ou assistiram na TV algumas vezes… e também, que fosse agradável para nós… Eu queria todos os melhores temas e apresentações colocados em minha prateleira.


Fala nos sobre os novos temas “Keepsakes” e “Raindrops”? É um prenúncio de álbum só com inéditas?

Pensei que seria uma boa ideia ter material novo no álbum, para que as pessoas não tivessem somente aquela impressão de uma “velha banda fantasma” e sim que ainda estamos vivos, a respirar e com criatividade. Andy e eu escrevemos o tema “Keepsakes”, o qual fala sobre toda o projecto da compilação e sobre nosso futuro. Junto ao Tim, escrevi “Raindrops”, o qual é o 1º tema que fizemos juntos em 15 anos… Nós adoramos trabalhar juntos e certamente escreveremos muitos mais. Não sei ao certo o que o futuro nos reserva!!! All About Eve já se separou tantas vezes… De qualquer forma estou a trabalhar em material novo… algumas coisas diferentes à AAE, ou será para AAE? Não sei? A banda é como um espelho partido.

Como observam as mudanças do cenário gótico Mundial ao longo destes anos? A diversificação de estilos relacionados a cena? Para quem viveu o início, esta realidade pode chocar de alguma forma?

Eu amo esta evolução! Penso que se estas tecnologias estivessem disponíveis naquele início, certamente seriam usadas pelas bandas. Com “samples” e máquinas podemos alcançar dimensões que jamais seriam possíveis numa banda. Assisti ao concerto do Marilyn Manson em Londres há um par de anos e foi magnífico. Gosto da face Metal que o gótico possui, assim como os elementos electrónicos e dançantes. Sempre amei música electrónica de John Foxx, Ultravox, Simple Minds e Gary Numan, mas sempre há espaço para grandes guitarras. Isso não me choca de maneira alguma… muito pelo contrário...


Li que Julianne Regan esta a aprender Norueguês e a pensar em escrever um livro… Fala nos um pouco sobre seus sonhos, projectos e sobre seu cão virtual May?

Eu amo línguas… Já tentei aprender sozinha muitas delas, a incluir o Português… Eu gostaria de visitar a Noruega; os Fjords e ir ao Círculo Árctico e ver a Aurora Boreal e os cães a puxar trenós… Esta é a minha férias de sonho.

Um livro? Amo unir as palavras, mas não tenho grande assunto para escrever ainda; não há nada a queimar em meu coração… quando isso acontecer, eu escrevê-lo-ei.

May é uma obediente e bonita Border Collie que gosta de AC/DC, porém é virtual já que não possuo um jardim para ela… Eu tenho também um filhote de cão virtual, o Jack Russel, que gosta de trincar os meus sapatos e é muito traquinas… Infelizmente seu cantor favorito é James Blunte e a banda é o Simply Red… dessa maneira terei que doá-lo.


Eu sou brasileiro e fiquei surpreso e feliz ao ler alguns nomes como Tom Jobim, Vinicius de Morais, Caetano Veloso e Elza Soares nas preferências do finlandês Toni Haimi. Como Toni os conheceu? Fala nos sobre essas referências?

Toni é um grande admirador da cultura, música, arte e literatura brasileira e já viajou para lá inúmeras vezes. Ele é apaixonado também pelos Índios Yanomamis e fala muito bem o português (do Brasil). Actualmente tem uma banda chamada Sohodolls (www.myspace.com/sohodolls), porém tocará guitarra para nós assim que precisarmos… Ele gosta de ser pago com garrafas de vinho e eu pagarei pelo menos 3 por canção.


Fala nos “All About Evils” da Humanidade? O que seria necessário para que o Mundo ficasse em Paz?

All About Evils? (risos). Todas as religiões e doutrinas organizadas. Materialismo, consumismo, toda ostentação… George W. Bush e sua falta de cuidado com a Ecologia e o Planeta. Tony Blair que acredita que Deus o absolverá pelo Iraque; tanta estupidez… Eu acredito que a única maneira de se ter paz será quando não houver religiões organizadas.


O que o “Porto” do All About Eve espera receber do “Oceano” Futuro?

Espero que o Oceano Futuro seja azul e majestoso… que o Sol irradie seus raios nas montanhas de gelo que flutuam por de trás, onde supostamente devem estar… Espero que seja cheio de vida e que consigamos sempre nos divertir com o quebrar das ondas… Nadar e surfar e sem nunca se afogar…


Muito obrigado por esta amável entrevista... Que mensagem deixariam para os leitores e admiradores…

Esperamos que apreciem “Keepsakes”, pois há nele muita emoção, amor, tristeza e alegria… Se o comprarem, eu poderia guardar uma quantia de dinheiro… O que me ajudaria a ter um jardim e meu cão poderia se tornar de carne e sangue… e realizar aquela viagem para Portugal e beijá-los todos… Um a um!!!


AGRADECEMSO TAMBEM AO SITE GOTHICSTATION PELA MATERIA!OBRIGADO AMISGO !!

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